quinta-feira, 21 de março de 2013

Crítica: Depeche Mode dá sentido à velha fórmula do blues eletrônico




O vocalista Dave Gahan em show na semana passada, no Texas
Foto: Jack Plunkett/AP



RIO - Eclipsado de certa forma pelos contemporâneos (e conterrâneos) The Smiths, New Order e The Cure, o Depeche Mode é um dos grupos mais influentes que a Inglaterra produziu nos anos 1980, tanto para o rock quanto para o pop eletrônico. Garotos inocentes do synthpop (no LP de estreia, “Speak and spell”, de 1981), depois experimentalistas industriais (em “Some great reward”, de 1984), sucesso de rádio (com “Music for the masses”, 1987) e, enfim, apóstolos do blues eletrônico (“Violator”, 1990), os músicos da pequena cidade de Basildon chegaram a ter a América (e o mundo) aos seus pés. Mas, aí, problemas diversos (entre eles o vício quase fatal em heroína do vocalista Dave Gahan) obrigaram o grupo a fazer uma parada no acostamento, nos anos 1990, justo quando uma nova geração de artistas (Nine Inch Nails, Marilyn Manson) estourava explorando o seu legado.



“Delta Machine”, o 13º álbum de estúdio do Depeche Mode (que será lançado na próxima terça-feira, mas que pode ser ouvido em streaming no iTunes) é mais um da série de bons discos que o grupo vem fazendo com certa regularidade desde a reinvenção, como trio, em “Ultra” (1997). O título parece mais um chiste com a fórmula sonora da banda: o blues do Delta do Mississippi, tocado por uma máquina.
Desfilam pelo novo álbum pedaços da história do grupo. O synthpop ecoa na estranha “Broken” e na boa “Soft touch/raw nerve”, e o industrial oitentista mostra sua cara feia em “Secret to the end”. Mas, no meio da eletrônica, sempre a tônica do grupo (em “My little universe”, por sinal, eles dão sua interpretação do minimal techno), emerge uma das guitarras mais subestimadas do rock, a de Martin L. Gore. É ele a guiar as boas faixas gospel-cibernéticas do disco, caso de “Angel”, de “Heaven” e de “Goodbye”, que traz um daqueles típicos versos de Dave Gahan: “Foi você que arrancou minha alma e a jogou no fogo!”.
Outras boas faixas, dignas do velho DM, aparecem aqui e ali em “Delta machine”. A de abertura, “Welcome to my world”, capricha nos sintetizadores e no climão (“deixe os tranquilizantes em casa, você não vai precisar deles”). Já na valsa tétrica “The child inside”, Gahan lamenta que a criança no coração tenha se afogado em mágoa. E em “Should be higher”, ele anseia pelo dia em que a vergonha e a culpa sejam eliminadas e a verdade apareça. Esqueça os discípulos do gótico: só o Depeche Mode salva.

Publicado por "O Globo"

Crédito: Alex Dantas




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